Texto e ilustrações: Beatriz Martins Vidal
Este é um livro com perguntas inquietas, desconfortantes, inusitadas sobre alguns dos mais conhecidos contos do inventário universal. Narrados há séculos, em todos os cantos do mundo, com as mais diferentes versões, os contos maravilhosos continuam a provocar as mais controversas emoções e reações em ouvintes e leitores de todas as idades. Ora com encantamento, ora com espantoso horror, os contos de fadas, por meio da aura do “faz de conta”, e talvez aqui resida o motivo por serem contados e recontados, favorecem o acesso ao território simbólico mais profundo dos seres humanos, tornando menos nebulosas as emoções tantas vezes silenciadas ou desconhecidas.
O livro Perguntas Inquietas, da autora e ilustradora espanhola Beatriz Martín Vidal, lança luz e trevas a esse universo dos contos por meio de dúvidas e nenhuma certeza.
O livro é estruturado de forma regular do início ao fim; a composição fixa na organização das duplas de páginas
– uma para a pergunta verbal, outra para a possível resposta visual – permite que a autora, ao revisitar a trama vivida por diferentes personagens, promova, em apenas 4 páginas, um concentrado de curiosidade, deslumbramento, desconforto e dúvida.
Em que terá pensado Chapeuzinho Vermelho ao se ver nas entranhas do lobo? Com quem terá sonhado Bela Adormecida durante os cem anos de sono profundo? Por que João e Maria preferiram voltar para casa, após serem abandonados?
Essas são algumas das perguntas formuladas e para as quais as ilustrações de Beatriz Martín Vidal oferecerão um surpreendente espetáculo visual como convite à reflexão do leitor.
O inconfundível estilo e técnica da artista, realista e onírico ao mesmo tempo, redefinem as canônicas imagens que costumam acompanhar os contos clássicos, arremessando o leitor, sem prévio preparo ou licença, a cenários e situações tão deslumbrantes quanto impactantes. Verdadeiras provocações pictóricas, as imagens não apenas acompanham as perguntas, mas as transcendem literariamente em possibilidades de sentidos. Texto e ilustração nunca se encontram na mesma página, por outro lado, são indissociáveis, não poderiam existir individualmente. Se as perguntas lançam o leitor ao campo do desconcerto, são as ilustrações, em cenas únicas e “congeladas”, que nos obrigam a recuperar mentalmente (ou procurando em outros livros) os acontecimentos factuais dessas narrativas na tentativa de procurar entender a natureza dos questionamentos morais ou existenciais formulados pela autora.
